Horário

carrer de l' Ángel, 12 bajos, Gracia, Barcelona
Lunes: ver Programación; Martes: 21:00 - 23:00; Miércoles: 18:00 - 21.00 y 18:00 - 23:00 (solo cuando hay evento); Jueves: 18:00 - 00:00; Viernes: 18:00 - 02:00; Sábados: 18:00 a 02:00; Domingos: ver Programación

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

3 Bairros... 5 Olhares

Um fotógrafo é um deambulador… Apropria-se de um objecto ou de um espaço tornando-o em algo diferente, abstracto, uma fracção da realidade. Cada fotógrafo é um ser, uma personagem que vive/observa um(a) espaço/personagem segundo os seus gostos e vivências. Com isto não pretendo afirmar que a fotografia é uma selecção arbitrária da realidade, esta é, um “olhar especial”, personificado, de um determinado grupo de personagens que tinham como objectivo percorrer um território. E, segundo os seus gostos, descobrir o local e tentar transmiti-lo por meio de “frames” da sua observação.



Os personagens, neste caso os 5 fotógrafos que vivem vidas distintas, vão assim expressar-se pelo meio fotográfico num jogo em que se cruzam com outros actores num cenário previamente estabelecido, os Bairros Culturais. A vida dos locais fica retratada de forma personificada, afinal de contas a realidade é a que é vivida e não aquela fotografada. A fotografia é a arte de mostrar a vida não como se vive, mas como os 5 personagens a observam. Encontro ai a beleza da reportagem dos 5 personagens onde sem intenção prévia vêm-se inseridos numa grande peça de teatro. Ao influenciarem a vida local e ao serem influenciados.


Mostraremos a vida, não tal e qual como ela é mas tal e qual como é observada à velocidade de obturação de uma câmara ou a um “simples olhar”.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Espaços Liminares

Certos bairros, um pouco por todo o mundo, têm a capacidade de se afirmar como centros da criatividade e da vida cultural das cidades onde se encontram. São zonas onde fervilha a oferta cultural e artística, da mais convencional à mais alternativa, mas são também espaços de encontro e sociabilidade, de grande vitalidade urbana, onde a arte e a cultura estão normalmente associadas à boémia e à vida nocturna. São espaços liminares, de múltiplas codificações e sentidos, onde coexistem gentes e actividades muito diversas; onde tem lugar a criação e a produção cultural, mas onde muitas vezes esta vai dando crescentemente lugar apenas a um consumo estética e simbolicamente muito marcado. São zonas onde a transgressão e a capacidade de explorar novos caminhos, características essenciais à criação artística mais alternativa e inovadora, são mais fáceis; espaços onde o controlo social é menos forte e portanto a expressão da diferença e a assunção dos riscos se encontram bem mais facilitadas.


Mas são também zonas onde os conflitos urbanos se manifestam com muita frequência, onde quotidianos distintos e contrastantes se cruzam por vezes com alguma fricção. E espaços sujeitos a processos de gentrificação e à especulação imobiliária, onde muitas vezes as actividades culturais e artísticas que nele se afirmaram, substituindo gradualmente os moradores e actividades mais tradicionais, são elas próprias rapidamente postas em causa, sendo substituídas por outras actividades e outras classes sociais, com mais capacidade para viver nestes espaços crescentemente valorizados, seja economicamente, seja nas representações sociais das populações.


Os espaços públicos são aqui uma arena privilegiada de todas estas dinâmicas e têm um papel fundamental na vivência dessas zonas. Territórios de transgressão e liminariedade, de afirmação simbólica individual e de construção de identidades colectivas, mas também territórios naturalmente muito marcados pelas vivências quotidianas das populações mais tradicionais. Espaços de tensão e de conflito, de sociabilidades e de encontros, de coexistências nem sempre pacíficas, onde a apropriação, física e simbólica, do lugar se faz de formas muito diferenciadas, e várias camadas de leitura e de codificação se vão sobrepondo e coexistindo, à luz dos diferentes olhares dos múltiplos utilizadores e produtores desses territórios. Espaços públicos cada vez mais fluidos, em que cada vez mais se tornam difusas as dicotomias entre noite e dia, trabalho e prazer, vida pública e vida privada, tradicional e (pós)moderno.


Foram exactamente estes espaços públicos e as múltiplas formas como são apropriados, marcados e experienciados pelas diversas camadas sociais que os vivem e usam quotidianamente que nos interessou fotografar. Em paralelo a um projecto de investigação científica sobre as raízes da criatividade na cidade e as formas de governança que podem ajudar à sua sustentabilidade (o projecto Creatcity, desenvolvido pelo Dinâmia-CET, do ISCTE-IUL), 5 fotógrafos/investigadores percorreram o Bairro Alto em Lisboa, o Bairro de La Gracia, em Barcelona e a Vila Madalena, em São Paulo, em busca dessa criatividade e vitalidade urbanas, procurando os seus sinais na apropriação do espaço público, nas manifestações criativas e nos conflitos, nas vivências quotidianas e nas marcas estruturais de mudança nesses bairros.


Libertos de grandes espartilhos estéticos ou formais, cada um dos 5 fotógrafos procurou dar a sua leitura pessoal sobre a vivência e a transformação destes bairros a partir dos seus espaços públicos, e sobre como eles serão ou não (ainda?) a expressão da criatividade artística e da vitalidade urbana em cada uma destas três metrópoles.