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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Espaços Liminares

Certos bairros, um pouco por todo o mundo, têm a capacidade de se afirmar como centros da criatividade e da vida cultural das cidades onde se encontram. São zonas onde fervilha a oferta cultural e artística, da mais convencional à mais alternativa, mas são também espaços de encontro e sociabilidade, de grande vitalidade urbana, onde a arte e a cultura estão normalmente associadas à boémia e à vida nocturna. São espaços liminares, de múltiplas codificações e sentidos, onde coexistem gentes e actividades muito diversas; onde tem lugar a criação e a produção cultural, mas onde muitas vezes esta vai dando crescentemente lugar apenas a um consumo estética e simbolicamente muito marcado. São zonas onde a transgressão e a capacidade de explorar novos caminhos, características essenciais à criação artística mais alternativa e inovadora, são mais fáceis; espaços onde o controlo social é menos forte e portanto a expressão da diferença e a assunção dos riscos se encontram bem mais facilitadas.


Mas são também zonas onde os conflitos urbanos se manifestam com muita frequência, onde quotidianos distintos e contrastantes se cruzam por vezes com alguma fricção. E espaços sujeitos a processos de gentrificação e à especulação imobiliária, onde muitas vezes as actividades culturais e artísticas que nele se afirmaram, substituindo gradualmente os moradores e actividades mais tradicionais, são elas próprias rapidamente postas em causa, sendo substituídas por outras actividades e outras classes sociais, com mais capacidade para viver nestes espaços crescentemente valorizados, seja economicamente, seja nas representações sociais das populações.


Os espaços públicos são aqui uma arena privilegiada de todas estas dinâmicas e têm um papel fundamental na vivência dessas zonas. Territórios de transgressão e liminariedade, de afirmação simbólica individual e de construção de identidades colectivas, mas também territórios naturalmente muito marcados pelas vivências quotidianas das populações mais tradicionais. Espaços de tensão e de conflito, de sociabilidades e de encontros, de coexistências nem sempre pacíficas, onde a apropriação, física e simbólica, do lugar se faz de formas muito diferenciadas, e várias camadas de leitura e de codificação se vão sobrepondo e coexistindo, à luz dos diferentes olhares dos múltiplos utilizadores e produtores desses territórios. Espaços públicos cada vez mais fluidos, em que cada vez mais se tornam difusas as dicotomias entre noite e dia, trabalho e prazer, vida pública e vida privada, tradicional e (pós)moderno.


Foram exactamente estes espaços públicos e as múltiplas formas como são apropriados, marcados e experienciados pelas diversas camadas sociais que os vivem e usam quotidianamente que nos interessou fotografar. Em paralelo a um projecto de investigação científica sobre as raízes da criatividade na cidade e as formas de governança que podem ajudar à sua sustentabilidade (o projecto Creatcity, desenvolvido pelo Dinâmia-CET, do ISCTE-IUL), 5 fotógrafos/investigadores percorreram o Bairro Alto em Lisboa, o Bairro de La Gracia, em Barcelona e a Vila Madalena, em São Paulo, em busca dessa criatividade e vitalidade urbanas, procurando os seus sinais na apropriação do espaço público, nas manifestações criativas e nos conflitos, nas vivências quotidianas e nas marcas estruturais de mudança nesses bairros.


Libertos de grandes espartilhos estéticos ou formais, cada um dos 5 fotógrafos procurou dar a sua leitura pessoal sobre a vivência e a transformação destes bairros a partir dos seus espaços públicos, e sobre como eles serão ou não (ainda?) a expressão da criatividade artística e da vitalidade urbana em cada uma destas três metrópoles.

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